TANATOLOGIA
1.CONCEITO
É a parte da Medicina Legal que estuda a morte, abordando os aspectos
biológicos e antropológicos e suas consequências jurídicas.
Definir
ou conceituar morte é um trabalho árduo, para alguns, impossível. Para outros,
morte é a cessação da vida. No ordenamento jurídico brasileiro, o entendimento
corrente considera morte como ausência de vida.
O
conceito de morte evoluiu com o tempo, desde a “morte pulmonar” dos gregos, até
a “morte encefálica” contemporânea, passando pela “morte cardíaca”, ainda
válido, considerado conceito operacional, permitindo o diagnóstico de morte em
todos os locais, sem a necessidade de grandes recursos.
O
diagnóstico de morte encefálica, ou parada definitiva da atividade encefálica,
é um procedimento complexo que exige profissionais habilitados, instrumental e
centros médicos de excelência, não existentes em todos os locais do País.
Morte é a cessação dos fenômenos
vitais, por parada das funções cerebral, respiratória e circulatórias, com
surgimento dos fenômenos abióticos, lentos e progressivos, que causam lesões
irreversíveis nos órgãos e tecidos.
O critério de morte encefálica é um
caso particular, não aplicável no dia a dia, próprio para as situações de
transplante de órgãos, em que há a necessidade de um diagnóstico rápido e
preciso, ou seja, é uma situação particular em que a morte é diagnosticada,
tida como certa, com a demonstração da parada definitiva da atividade
encefálica.
Premoriência e Comoriência
Nesses casos os órgãos de interesse
são mantidos em funcionamento com o uso de equipamentos e/ou fármacos (drogas
médicas).
Tais conceitos são importantes nas
situações de mortes muito próximas, em que há necessidade de estabelecimento de
seqüência, com fins sucessórios.
Premoriência
é a seqüência de morte estabelecida, ou seja, “A” morreu antes de “B”.
Comoriência é a simultaneidade de
mortes, caso mais comum, pois na maioria das vezes não é possível a
determinação da seqüência de eventos.
2.
MODALIDADES DO EVENTO MORTE:
- morte anatômica - É o cessamento total e permanente de
todas as grandes funções do organismo entre si e com o meio ambiente.
- morte histolôgica - Não sendo a morte um momento,
compreende-se ser a morte histológica um processo decorrente da anterior, em
que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem paulatinamente.
-
morte aparente –
estados patológicos do organismo simulam a morte, podendo durar horas, sendo
possível a recuperação pelo emprego imediato e adequado de socorro médico. O
adjetivo "aparente" nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o
indivíduo assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil
persistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas. É
possível a recuperação de indivíduo em estado de morte aparente pelo emprego de
socorro médico imediato e adequado.
-
morte relativa –
estado em que ocorre parada efetiva e duradora das funções circulatórias,
respiratórias e nervosas, associada à cianose e palidez marmórea, porém
acontecendo a reanimação com manobras terapêuticas.
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns
autores. é a que precede a absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro
estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são relatadas
neste tipo de morte.
-
morte absoluta ou morte real
– estado que se caracteriza pelo desaparecimento definitivo de toda atividade
biológica do organismo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da
vida inicio da decomposição.
3.
TANOTOGNOSE
É a parte da Tanatologia Forense que
estuda o diagnóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mais
difícil quanto mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos
fenômenos transformativos do cadáver. Então, o perito observará dois tipos de
fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e
consecutivos, e os transformativos, destrutivos ou conservadores.
3.1
Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negativos
Logo
após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e estruturas, como o
pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos imediatos ou precoces.
Tais sinais são considerados de probabilidade, ou seja, indicam a possibilidade
de morte e são denominados por alguns autores como período de morte aparente,
por outros são chamados de morte intermediária.
1.
perda
da consciência;
2.
abolição
do tônus muscular com imobilidade;
3.
perda
da sensibilidade;
4.
relaxamento
dos esfíncteres;
5.
cessação
da respiração;
6.
cessação
dos batimentos cardíacos;
7.
ausência
de pulso;
8.
fácies
hipocrática;
9.
pálpebras
parcialmente cerradas.
3.2
Fenômenos consecutivos
Algum
tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, tardios ou consecutivos, indicativos de certeza da morte. Tais sinais
constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações de
coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da morte (morte
real).
1.
resfriamento
paulatino do corpo;
2.
rigidez
cadavérica;
3.
espasmo
cadavérico;
4.
manchas
de hipóstase e livores cadavéricos;
5.
dessecamento:
decréscimo de peso, pergarninhamento da pele e das mucosas dos lábios;
modificações dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea
transparente; perda da tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.
De
modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da temperatura em 0,5°C nas
três primeiras horas, depois 1°C
por hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em torno de 20
horas nas crianças, e de 24 à 26 horas nos adultos.
Os
livores, alterações de coloração, variam da palidez a manchas vinhosas. São
observados nas regiões de declive, devido ao acúmulo (deposição) sangüíneo por
atração gravitacional. Aparecem ½ hora após a parada cardíaca, podendo mudar de
posição quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não mudam
mais de posição, fenômeno denominado de fixação.
A rigidez, contratura muscular, tem
início na cabeça, uma hora após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço,
tronco e extremidades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O
relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denominada Lei de Nysten.
O tempo de evolução é variável.
3.3.
Fenômenos Transformativos
Microscopicamente, horas após a parada
cardíaca, ocorre um processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracterizada por
auto-digestão determinada por enzimas presentes nos lisossomos, uma das
organelas citoplasmáticas.
Macroscopicamente, o primeiro sinal de
putrefação é o aparecimento da mancha verde abdominal na região inguinal
direita (porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela produção
bacteriana de hidreto de enxofre que, por sua vez, determina a formação de
sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre “ocupa” o lugar do oxigênio ou do
dióxido de carbono na hemoglobina.
A
mancha aparece de 16 a
24 horas após a parada cardíaca, progride para as outras regiões abdominais e
depois para o corpo todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos
afogados a mancha verde pode aparecer no tórax.
Os fenômenos transformativos
compreendem os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os
conservadores (mumificação e saponificação). Resultam de alterações somáticas
tardias tão intensas que a vida se torna absolutamente impossível. São,
portanto, sinais de certeza da realidade de morte.
3.3.1
Fenômenos destrutivos
3.3.1.1 Autólise
Após a morte cessam com a circulação
as trocas nutritivas intracelulares, determinando lise dos tecidos seguida de
acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente
diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por diminuta que
seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os fenômenos intra e extracelulares de
decomposição.
3.3.1.2
Putrefação
É uma forma de transformação
cadavérica destrutiva, que se inicia, logo após a autólise, pela ação de
micróbios aeróbios, anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção
inicial do grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o sinal mais
precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, posteriormente, se
difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida conferindo
ao morto aspecto bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem
exceção;neles a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do
corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
Na dependência de fatores intrínsecos
e de fatores, a marcha da putrefação, se faz em quatro períodos:
1.º)
Período de coloração -
Tonalidade verde-enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação do
hidrogênio sulfurado nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina,
surge, em nosso meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7
dias.
2.°)
Período gasoso - Os gases
internos da putrefação migram para a periferia provocando o aparecimento na
superfície corporal de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confere
ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na face,
no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compressão do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas esvaziam-se,
a língua exterioriza-se, o pericrânio fica nu. O ânus se entreabre evertendo a
mucosa retal. A força viva dos gases de putrefação inflando intensamente o
cadáver pode fender a parede abdominal com estalo. O odor característico da
putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfidrico. Esse período dura em
média duas semanas.
3.°)
Período coliquativo - A
coliquação é a dissolução pútrida das partes moles do cadáver pela ação
conjunta das bactérias e da fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde
gradativamente a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela
esqueletização.
4.º) Período
de esqueletização - A
ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os resíduos tissulares,
inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamente
livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes resistem muito tempo
à destruição. Os ossos também resistem anos a fio, porém terminam por perder
progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se mais leves e frágeis.
3.3.1.3
Maceração
Ocorre quando os restos mortais ficam
imersos em meio líquido, sendo caracterizada por putrefação atípica,
enrugamento tecidual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda).
São conhecidas duas formas:
·
Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos
corpos que permanecem, após a morte, em lagos, rios e mares.
·
Asséptica: observada na morte e permanência do
feto intra-útero.
É um fenômeno de transformação
destrutiva em que a pele do cadáver, que se encontra em meio contaminado, se
torna enrugada e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com
diminuição de consistência inicial, achatamento do ventre e liberação dos ossos
de suas partes de sustentação, dando a impressão de estarem soltos; ocorre
quando o cadáver ficou imerso em líquido, como os afogados, feto retido no
útero materno.
Compreende três graus: no primeiro
grau, a maceração está representada pelo surgimento lento, nos três primeiros
dias, de flictenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a
ruptura das flictenas confere ao líquido amniótico cor vermelho-pardacenta, e a
separação da pele de quase toda a superfície corporal, a partir do oitavo dia,
dá ao feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-se o couro
cabeludo, à maneira de escalpo, do submerso ou do feto retido
intra-uterinamente, e, em torno do 15.° dia post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre os
outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral torna-se
mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire
acentuada cifose, pela pressão uterina.
acentuada cifose, pela pressão uterina.
3.3.2
Fenômenos conservadores
3.3.2.1
Mumificação
É a dessecação, natural ou artificial,
do cadáver. Há de ser rápida e acentuada a desidratação.
A mumificação natural ocorre no
cadáver insepulto, em regiões de clima quente e seco e de arejamento intensivo
suficiente para impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatívos.
Assim podem ser encontradas múmias naturais, sem caixão. A mumificação por
processo artificial foi praticada historicamente pelos egípcios e pelos incas,
por embalsamamento, após intensa dessecação corporal.
As múmias têm aspecto característico:
peso corporal reduzido em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura,
coriácea, ressoando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e
dentes conservados.
3.3.2.2
Saponificação
É um processo transformativo de
conservação em que o cadáver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão
ou cera (adipocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalando
odor de queijo rançoso; as condições exigidas para o surgimento da
saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permite a embebição e
dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio regularmente avançado de
putrefação.
A saponificação atinge comumente
segmentos limitados do cadáver; pode, entretanto, raramente, comprometê-lo em
sua totalidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habitualmente
se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em valas comuns de grandes
dimensões.
3.3.3
Outros tipos
São conhecidos outros fenômenos
conservativos como:
·
Refrigeração: em ambientes muito frios.
·
Corificação: desidratação tegumentar com aspecto
de couro submetido a tratamento industrial.
·
Fossilização: fenômeno conservativo de longa
duração.
·
Petrificação: substituição progressiva das
estruturas biológicas por minerais, dando um aspecto de pedra com manutenção da
morfologia dos restos mortais.
4.
TIPOS DE MORTE
Quanto
ao modo, as mortes são classificadas em naturais, violentas ou suspeitas.
Alguns autores incluem outros tipos, como a morte reflexa (“congestão”),
determinada por mecanismo inibitório, como nos casos de afogados brancos,
estudados em
Asfixiologia. As mortes violentas são divididas em
acidentais, homicidas e suicidas.
Quanto
ao tempo, as mortes são classificadas em:
·
Súbita: aquela que não é precedida de nenhum
quadro, que é inesperada.
·
Agônica: aquela precedida de período de
sobrevida. Neste item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o
indivíduo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida; por
exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no coração, o indivíduo
tem tempo para reagir e ferir ou matar o desafeto; ou então o suicida que, após
ter dado um tiro na cabeça, escreve bilhete de despedida (situações não usuais,
mas possíveis).
O diagnóstico diferencial entre as
formas “súbita” e “agônica” é possível com provas especiais, denominadas
docimásticas, que estudam as células, tecidos e substâncias presentes no
organismo, como glicogênio e adrenalina.
Nas
mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer “Declaração de Óbito”,
documento que contém o Atestado de Óbito e que originará a Certidão de Óbito.
Nas mortes naturais, sem diagnóstico
da causa básica (doença ou evento que deu início à cadeia de eventos que
culminou com a morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação
de Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realizadas pelos
Institutos Médico-Legais.
4.1
Morte natural
É aquela que sobrevém por causas
patológicas ou doenças, como malformação na vida uterina.
4.2
Morte suspeita
É aquela que ocorre em pessoas de
aparente boa saúde, de forma inesperada, sem causa evidente e com sinais de
violência definidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica,
daí a necessidade da perícia e investigação.
4.3
Morte súbita
É aquela que acontece de forma
inesperada e imprevista, em segundos ou minutos.
4.4
Morte agônica
É aquela em que a extinção desarmônica
das funções vitais ocorre em tempo longo e neste caso, os livores hipostáticos
formam-se mais lentamente.
4.5
Morte reflexa
É aquela em que se faz presente a
tensão emocional, ou seja, uma irritação nervosa (excitação) de origem externa,
exercida em certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das
funções circulatórias e respiratórias.
5.
CRONOTANATOGNOSE
É a parte da Tanatologia que estuda a
data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, não obedecendo
ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes corpos
e com a causa mortis e
influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da
temperatura e umidade ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data
da morte tão exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. O seu
estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos
civis ligados à sobrevivência e de interesse sucessório. A cronotanatognose
baseia-se num conjunto de fenômenos, a saber:
Resfriamento
do cadáver
Em nosso meio é de 0,5°e nas três
primeiras horas; a seguir, o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o
restabelecimento do equilíbrio térmico com o meio ambiente.
Rigidez
cadavérica
Pode manifestar-se tardia ou
precocemente. Segundo Nysten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na
face, nuca e mandíbula, 1 a
2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 horas; nos membros superiores, 4 a 6 horas; nos membros
inferiores, 6 a
8 horas post mortem. A rigidez
cadavérica desaparece progressivamente seguindo a mesma ordem de seu
aparecimento, cedendo lugar à flacidez muscular, após 36 a 48 horas de permanência
do óbito.
Livores
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas
surgem habitualmente entre 2 a
3 horas, fixando-se definitivamente no período de 8 a 12 horas após a morte.
Mancha
verde abdominal
Influenciada pela temperatura do meio
ambiente, surge entre 18 a
24 horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo do 3.° ao 5.° dia
após a morte
Gases
de putrefação
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da
mesma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação.
Decréscimo
de peso
Tem valor relativo por sofrer
importantes variações determinadas pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente.
Aceita-se, no entanto, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de
8g/kg de peso nas primeiras 24 horas após o falecimento.
Crioscopia
do sangue
O ponto crioscópico ou ponto de
congelação do sangue é de -0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para
afirmar a causa jurídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do
meio líquido em que ela ocorreu.
Cristais
do sangue putrefato
São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde,
lâminas cristalóides muito frágeis, entrecruzadas e agrupadas, incolores, que
adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e castanha, pelo iodo,
passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia no sangue putrefato.
Fauna
cadavérica
O seu estudo em relação ao cadáver
exposto ao ar livre tem relativo valor conclusivo na determinação da
tanatocronognose, embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa
seqüência e regularidade, nas diferentes fases putrefativas adiantadas do
cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as legiões sucessoras,
representadas por um grupo de oito.
São elas:
São elas:
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º
dia;
2ª Legião: surge com o odor cadavérico,
cerca de 15 à 20 dias;
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
4ª Legião: encontrada 10 meses após o
óbito;
5ª Legião: é encontrada nos cadáveres
dos que morreram há mais de 10 meses;
6ª Legião: desseca todos os humores
que ainda restam no cadáver, 10 à 12 meses;
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e
destrói os ligamentos e tendões deixando os ossos livres.
8ª Legião: consome, cerca de 3 anos
após a morte, todos os resquícios orgânicos porventura deixados pelas
precedentes
6. INUMAÇÃO
Consiste no sepultamento do cadáver,
ou seja, corpo morto de aparência humana e que não se processam antes das 24
horas, nem após 36 horas da morte.
Cadáver é o corpo morto, enquanto
conserva a aparência humana por não ter cessado totalmente a conexão de suas
partes. O conceito exclui o arcabouço ósseo, as cinzas humanas, os restos
mortais em completa decomposição e a múmia.
Arcabouço ósseo é o esqueleto, v. g.,
o conjunto de 208 ossos.
Cinzas humanas são os restos de um
cadáver.
O cadáver é uma res extra commercium.
A múmia, por não inspirar o mesmo
sentimento de respeito devido aos mortos, não é considerada cadáver.
Natimorto é o concepto expulso do
ventre materno a tempo, após ter atingido a capacidade de vida extra-uterina.
7.
EXUMAÇÃO
Consiste no desenterramento do
cadáver, não importando o local onde se encontra sepultado, revestido de
observância de disposições legais (art. 6°, I, CPP), pois caso contrário
implicará na infração penal do art. 67 da LCP.
Localizada a sepultura, deve-se fotografá-Ia juntamente com outra, tomada
como ponto de referência, após o que procede-se à sua abertura. O caixão e,
depois de sua abertura, o cadáver, ou o que dele restar, serão fotografados na
posição em que forem encontrados (art.164 do CPP).
Identificado o morto, efetua-se o
exame cadavérico, descrevendo os componentes minuciosamente, no auto de
exumação e reconhecimento, a sepultura, o esquife, as vestes, o aspecto do de cujus, o grau de putrefação, ou a
ossada, se já atingiu a fase de esqueletização.
Nos casos de exumação por suspeita de
envenenamento, os peritos recolherão os órgãos, seus destroços ou resíduos
putrefeitos, cabelos e ossos, em vasos adequados.
8.
CREMAÇÃO
Consiste na incineração do cadáver,
reduzindo-o a cinzas que são depositadas em urnas, podendo ser enterradas ou
conservados em local próprio a esse fim.
A cremação processa-se em fornos
aquecidos a lenha, coque, óleo, GLP ou eletricidade, à temperatura de 1.000 a 1.200°C, que
reduzem o cadáver de um adulto de 1,5
a 2,5kg de cinzas, conforme o peso, em aproximadamente
1,5 h, que são recolhidas numa caixa de metal soldada e colocada em uma urna de
bronze, de acabamento artístico.
Os apologistas da cremação apontam as
seguintes vantagens:
a)Higiene - É processo ideal do ponto de vista
higiênico.
b)Economia monetária - As despesas da cremação custam 20% a
40% a menos que as do enterro.
c) Economia de espaço - O corpo cremado ocupa um espaço, 14 a 20
vezes menor que o inumado.
Como desvantagem, do ponto de vista
médico-legal, cita-se a impossibilidade da verificação post mortem, quando surge uma suspeita de crime.
Só se procederá à cremação
facultativamente e mediante vontade expressa em vida, ou, compulsoriamente, no
interesse da saúde pública.
9. EMBALSAMAMENTO
Consiste em introduzir nas artérias
carótidas comum ou femoral, e nas cavidades tóraco-abdominal e craniana, de
líquidos desinfetantes, de natureza conservadora, em alto poder germicida, para
impedir a putrefação do cadáver.
10. DIAGNOSE DIFERENCIAL DAS LESÕES "ANTE" E
"POST MORTEM"
O legisperito esclarecerá à Justiça se
as lesões encontradas foram causadas: a)
bem antes da morte; b) imediatamente
antes da morte c) logo após a morte; d)
certo tempo após a morte.
As lesões corporais sofridas in vitam traduzem sempre reações
viltais.
1)
Hemorragia - A hemorragia
interna proveniente de lesão produzida no vivo aloja-se no interior do corpo
sob forma de grandes coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é
sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não coagula..
2) Retração
dos tecidos - Os
ferimentos incisos e os cortocontundentes mostram as margens afastadas, devido
à retração dos tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os
músculos perdem a contratilidade.
3)
Escoriações - A presença
de crosta recobrindo as escoriações significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele escoriada é sinal
seguro de lesão pos mortem.
4)
Equimoses - Sobrevêm de
repente no vivo após o traumatismo, e se apagam lenta e paulatinamente. No
cadáver não ocorrem essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
5) Reações
inflamatórias -
Manifestadas pelos quatro sintomas cardinais: dor, tumor, rubor e calor.
Desse modo, é a inflamação importante elemento afirmativo de que a lesão foi
produzida bem antes da morte.
6) Embolias
- São acidentes cujas
principais manifestações dependem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à
obliteração súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou por um
corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo.
7)
Consolidação das fraturas -
O tempo de consolidação de uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1
ou 2 meses.
8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as flictenas contendo líquido límpido ou
citrino, leucócitos, cloreto de sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o
retículo vasculocutâneo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma nenhum desses sinais
vitais. E as bolhas porventura existentes assestam-se em áreas edemaciadas
contendo gás e, às vezes, líquido desprovido de albuminas e de glóbulos
brancos.
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se forma nos
afogados que reagiram à proximidade da morte cedo foram retirados do meio
líquido.
10) A diluição do sangue e a presença
de líquido nos pulmões e no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas no interior da
traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuligem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos que respiraram no foco de
incêndio, de aeração pulmonar e
conteúdo lácteo no tubo
digestivo de recém-nascido são sinais certos de reação vital.
Bastante didático... TOP!!!!
ResponderExcluirgostei muito bom
ResponderExcluirParabéns Professor, excelente trabalho!!!
ResponderExcluirExcelente
ResponderExcluirPara ser perfeito, faltou a bibliografia de consulta.
ResponderExcluirtopissimo! obg pelo bom conteudo.
ResponderExcluirCientificamente sucinto e didático.
ResponderExcluirMuito bom! Obrigada .
ResponderExcluirAgradeço pelo conteudo e solicito bibliografia complementar.
ResponderExcluirGostei, muito bom o conteúdo.
ResponderExcluir