segunda-feira, 15 de junho de 2015

Aula 6 - Tanatologia

TANATOLOGIA

1.CONCEITO

É a parte da Medicina Legal que estuda a morte, abordando os aspectos biológicos e antropológicos e suas consequências jurídicas.
Definir ou conceituar morte é um trabalho árduo, para alguns, impossível. Para outros, morte é a cessação da vida. No ordenamento jurídico brasileiro, o entendimento corrente considera morte como ausência de vida.
O conceito de morte evoluiu com o tempo, desde a “morte pulmonar” dos gregos, até a “morte encefálica” contemporânea, passando pela “morte cardíaca”, ainda válido, considerado conceito operacional, permitindo o diagnóstico de morte em todos os locais, sem a necessidade de grandes recursos.
O diagnóstico de morte encefálica, ou parada definitiva da atividade encefálica, é um procedimento complexo que exige profissionais habilitados, instrumental e centros médicos de excelência, não existentes em todos os locais do País.
Morte é a cessação dos fenômenos vitais, por parada das funções cerebral, respiratória e circulatórias, com surgimento dos fenômenos abióticos, lentos e progressivos, que causam lesões irreversíveis nos órgãos e tecidos.
O critério de morte encefálica é um caso particular, não aplicável no dia a dia, próprio para as situações de transplante de órgãos, em que há a necessidade de um diagnóstico rápido e preciso, ou seja, é uma situação particular em que a morte é diagnosticada, tida como certa, com a demonstração da parada definitiva da atividade encefálica.

Premoriência e Comoriência
Nesses casos os órgãos de interesse são mantidos em funcionamento com o uso de equipamentos e/ou fármacos (drogas médicas).
Tais conceitos são importantes nas situações de mortes muito próximas, em que há necessidade de estabelecimento de seqüência, com fins sucessórios.
Premoriência é a seqüência de morte estabelecida, ou seja, “A” morreu antes de “B”.
Comoriência é a simultaneidade de mortes, caso mais comum, pois na maioria das vezes não é possível a determinação da seqüência de eventos.


2. MODALIDADES DO EVENTO MORTE:

- morte anatômica - É o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do organismo entre si e com o meio ambiente.
- morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, compreende-se ser a morte histológica um processo decorrente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem paulatinamente.
- morte aparente – estados patológicos do organismo simulam a morte, podendo durar horas, sendo possível a recuperação pelo emprego imediato e adequado de socorro médico. O adjetivo "aparente" nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado.
- morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e duradora das funções circulatórias, respiratórias e nervosas, associada à cianose e palidez marmórea, porém acontecendo a reanimação com manobras terapêuticas.
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns autores. é a que precede a absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são relatadas neste tipo de morte.
- morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo desaparecimento definitivo de toda atividade biológica do organismo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da vida inicio da decomposição.


3. TANOTOGNOSE

É a parte da Tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mais difícil quanto mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenômenos transformativos do cadáver. Então, o perito observará dois tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e consecutivos, e os transformativos, destrutivos ou conservadores.


3.1 Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negativos

Logo após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e estruturas, como o pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos imediatos ou precoces. Tais sinais são considerados de probabilidade, ou seja, indicam a possibilidade de morte e são denominados por alguns autores como período de morte aparente, por outros são chamados de morte intermediária.
1.           perda da consciência;
2.           abolição do tônus muscular com imobilidade;
3.           perda da sensibilidade;
4.           relaxamento dos esfíncteres;
5.           cessação da respiração;
6.           cessação dos batimentos cardíacos;
7.           ausência de pulso;
8.           fácies hipocrática;
9.           pálpebras parcialmente cerradas.

3.2 Fenômenos consecutivos

Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, tardios ou consecutivos, indicativos de certeza da morte. Tais sinais constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações de coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da morte (morte real).
1.           resfriamento paulatino do corpo;
2.           rigidez cadavérica;
3.           espasmo cadavérico;
4.           manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
5.           dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da pele e das mucosas dos lábios; modificações dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.

De modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas, depois 1°C por hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em torno de 20 horas nas crianças, e de 24 à 26 horas nos adultos.
Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a manchas vinhosas. São observados nas regiões de declive, devido ao acúmulo (deposição) sangüíneo por atração gravitacional. Aparecem ½ hora após a parada cardíaca, podendo mudar de posição quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não mudam mais de posição, fenômeno denominado de fixação.
A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço, tronco e extremidades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denominada Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável.

3.3. Fenômenos Transformativos

Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracterizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos lisossomos, uma das organelas citoplasmáticas.
Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o aparecimento da mancha verde abdominal na região inguinal direita (porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela produção bacteriana de hidreto de enxofre que, por sua vez, determina a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre “ocupa” o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemoglobina.
A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca, progride para as outras regiões abdominais e depois para o corpo todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados a mancha verde pode aparecer no tórax.
Os fenômenos transformativos compreendem os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumificação e saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão intensas que a vida se torna absolutamente impossível. São, portanto, sinais de certeza da realidade de morte.

3.3.1 Fenômenos destrutivos

3.3.1.1 Autólise
Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas intracelulares, determinando lise dos tecidos seguida de acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os fenômenos intra e extracelulares de decomposição.

3.3.1.2 Putrefação
É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que se inicia, logo após a autólise, pela ação de micróbios aeróbios, anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção inicial do grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o sinal mais precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, posteriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida conferindo ao morto aspecto bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção;neles a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha da putrefação, se faz em quatro períodos:
1.º) Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação do hidrogênio sulfurado nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina, surge, em nosso meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7 dias.
2.°) Período gasoso - Os gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o aparecimento na superfície corporal de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confere ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compressão do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas esvaziam-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases de putrefação inflando intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal com estalo. O odor característico da putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfidrico. Esse período dura em média duas semanas.
3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida das partes moles do cadáver pela ação conjunta das bactérias e da fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde gradativamente a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela esqueletização.
4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os resíduos tissulares, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamente livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes resistem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se mais leves e frágeis.

3.3.1.3 Maceração
Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líquido, sendo caracterizada por putrefação atípica, enrugamento tecidual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda).
São conhecidas duas formas:
·          Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que permanecem, após a morte, em lagos, rios e mares.
·          Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-útero.
É um fenômeno de transformação destrutiva em que a pele do cadáver, que se encontra em meio contaminado, se torna enrugada e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com diminuição de consistência inicial, achatamento do ventre e liberação dos ossos de suas partes de sustentação, dando a impressão de estarem soltos; ocorre quando o cadáver ficou imerso em líquido, como os afogados, feto retido no útero materno.
Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está representada pelo surgimento lento, nos três primeiros dias, de flictenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a ruptura das flictenas confere ao líquido amniótico cor vermelho-pardacenta, e a separação da pele de quase toda a superfície corporal, a partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, do submerso ou do feto retido intra-uterinamente, e, em torno do 15.° dia post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre os outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire
acentuada cifose, pela pressão uterina.

3.3.2 Fenômenos conservadores

3.3.2.1 Mumificação
É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápida e acentuada a desidratação.
A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões de clima quente e seco e de arejamento intensivo suficiente para impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatívos. Assim podem ser encontradas múmias naturais, sem caixão. A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa dessecação corporal.
As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea, ressoando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e dentes conservados.

3.3.2.2 Saponificação
É um processo transformativo de conservação em que o cadáver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão ou cera (adipocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalando odor de queijo rançoso; as condições exigidas para o surgimento da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permite a embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio regularmente avançado de putrefação.
A saponificação atinge comumente segmentos limitados do cadáver; pode, entretanto, raramente, comprometê-lo em sua totalidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habitualmente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em valas comuns de grandes dimensões.

3.3.3 Outros tipos
São conhecidos outros fenômenos conservativos como:
·          Refrigeração: em ambientes muito frios.
·          Corificação: desidratação tegumentar com aspecto de couro submetido a tratamento industrial.
·          Fossilização: fenômeno conservativo de longa duração.
·          Petrificação: substituição progressiva das estruturas biológicas por minerais, dando um aspecto de pedra com manutenção da morfologia dos restos mortais.

4. TIPOS DE MORTE

Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, violentas ou suspeitas. Alguns autores incluem outros tipos, como a morte reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitório, como nos casos de afogados brancos, estudados em Asfixiologia. As mortes violentas são divididas em acidentais, homicidas e suicidas.
Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em:
·          Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que é inesperada.
·          Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o indivíduo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida; por exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o desafeto; ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça, escreve bilhete de despedida (situações não usuais, mas possíveis).
O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica” é possível com provas especiais, denominadas docimásticas, que estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo, como glicogênio e adrenalina.
Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer “Declaração de Óbito”, documento que contém o Atestado de Óbito e que originará a Certidão de Óbito.
Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença ou evento que deu início à cadeia de eventos que culminou com a morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação de Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realizadas pelos Institutos Médico-Legais.

4.1 Morte natural
É aquela que sobrevém por causas patológicas ou doenças, como malformação na vida uterina.

4.2 Morte suspeita
É aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de forma inesperada, sem causa evidente e com sinais de violência definidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica, daí a necessidade da perícia e investigação.

4.3 Morte súbita
É aquela que acontece de forma inesperada e imprevista, em segundos ou minutos.

4.4 Morte agônica
É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais ocorre em tempo longo e neste caso, os livores hipostáticos formam-se mais lentamente.

4.5 Morte reflexa
É aquela em que se faz presente a tensão emocional, ou seja, uma irritação nervosa (excitação) de origem externa, exercida em certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das funções circulatórias e respiratórias.


5.    CRONOTANATOGNOSE

É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da temperatura e umidade ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse sucessório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenômenos, a saber:

Resfriamento do cadáver
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir, o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o restabelecimento do equilíbrio térmico com o meio ambiente.

Rigidez cadavérica
Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nysten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na face, nuca e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 horas; nos membros superiores, 4 a 6 horas; nos membros inferiores, 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece progressivamente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, cedendo lugar à flacidez muscular, após 36 a 48 horas de permanência do óbito.

Livores
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitualmente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitivamente no período de 8 a 12 horas após a morte.

Mancha verde abdominal
Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre 18 a 24 horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo do 3.° ao 5.° dia após a morte

Gases de putrefação
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mesma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação.

Decréscimo de peso
Tem valor relativo por sofrer importantes variações determinadas pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente. Aceita-se, no entanto, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de 8g/kg de peso nas primeiras 24 horas após o falecimento.

Crioscopia do sangue
O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de -0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para afirmar a causa jurídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio líquido em que ela ocorreu.

Cristais do sangue putrefato
São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâminas cristalóides muito frágeis, entrecruzadas e agrupadas, incolores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e castanha, pelo iodo, passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia no sangue putrefato.

Fauna cadavérica
O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem relativo valor conclusivo na determinação da tanatocronognose, embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa seqüência e regularidade, nas diferentes fases putrefativas adiantadas do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as legiões sucessoras, representadas por um grupo de oito.
São elas:
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia;
2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias;
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito;
5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há mais de 10 meses;
6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no cadáver, 10 à 12 meses;
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e tendões deixando os ossos livres.
8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os resquícios orgânicos porventura deixados pelas precedentes


6.    INUMAÇÃO

Consiste no sepultamento do cadáver, ou seja, corpo morto de aparência humana e que não se processam antes das 24 horas, nem após 36 horas da morte.
Cadáver é o corpo morto, enquanto conserva a aparência humana por não ter cessado totalmente a conexão de suas partes. O conceito exclui o arcabouço ósseo, as cinzas humanas, os restos mortais em completa decomposição e a múmia.
Arcabouço ósseo é o esqueleto, v. g., o conjunto de 208 ossos.
Cinzas humanas são os restos de um cadáver.
O cadáver é uma res extra commercium.
A múmia, por não inspirar o mesmo sentimento de respeito devido aos mortos, não é considerada cadáver.
Natimorto é o concepto expulso do ventre materno a tempo, após ter atingido a capacidade de vida extra-uterina.


7.    EXUMAÇÃO

Consiste no desenterramento do cadáver, não importando o local onde se encontra sepultado, revestido de observância de disposições legais (art. 6°, I, CPP), pois caso contrário implicará na infração penal do art. 67 da LCP.
Localizada a sepultura, deve-se fotografá-Ia juntamente com outra, tomada como ponto de referência, após o que procede-se à sua abertura. O caixão e, depois de sua abertura, o cadáver, ou o que dele restar, serão fotografados na posição em que forem encontrados (art.164 do CPP).
Identificado o morto, efetua-se o exame cadavérico, descrevendo os componentes minuciosamente, no auto de exumação e reconhecimento, a sepultura, o esquife, as vestes, o aspecto do de cujus, o grau de putrefação, ou a ossada, se já atingiu a fase de esqueletização.
Nos casos de exumação por suspeita de envenenamento, os peritos recolherão os órgãos, seus destroços ou resíduos putrefeitos, cabelos e ossos, em vasos adequados.


8.    CREMAÇÃO

Consiste na incineração do cadáver, reduzindo-o a cinzas que são depositadas em urnas, podendo ser enterradas ou conservados em local próprio a esse fim.
A cremação processa-se em fornos aquecidos a lenha, coque, óleo, GLP ou eletricidade, à temperatura de 1.000 a 1.200°C, que reduzem o cadáver de um adulto de 1,5 a 2,5kg de cinzas, conforme o peso, em aproximadamente 1,5 h, que são recolhidas numa caixa de metal soldada e colocada em uma urna de bronze, de acabamento artístico.
Os apologistas da cremação apontam as seguintes vantagens:
a)Higiene - É processo ideal do ponto de vista higiênico.
b)Economia monetária - As despesas da cremação custam 20% a 40% a menos que as do enterro.
c) Economia de espaço - O corpo cremado ocupa um espaço, 14 a 20 vezes menor que o inumado.
Como desvantagem, do ponto de vista médico-legal, cita-se a impossibilidade da verificação post mortem, quando surge uma suspeita de crime.
Só se procederá à cremação facultativamente e mediante vontade expressa em vida, ou, compulsoriamente, no interesse da saúde pública.


9.    EMBALSAMAMENTO

Consiste em introduzir nas artérias carótidas comum ou femoral, e nas cavidades tóraco-abdominal e craniana, de líquidos desinfetantes, de natureza conservadora, em alto poder germicida, para impedir a putrefação do cadáver.


10. DIAGNOSE DIFERENCIAL DAS LESÕES "ANTE" E "POST MORTEM"

O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas foram causadas: a) bem antes da morte; b) imediatamente antes da morte c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte.
As lesões corporais sofridas in vitam traduzem sempre reações viltais.
1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão produzida no vivo aloja-se no interior do corpo sob forma de grandes coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não coagula..
2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocontundentes mostram as margens afastadas, devido à retração dos tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os músculos perdem a contratilidade.
3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele escoriada é sinal seguro de lesão pos mortem.
4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatismo, e se apagam lenta e paulatinamente. No cadáver não ocorrem essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse modo, é a inflamação importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem antes da morte.
6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações dependem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à obliteração súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou por um corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo.
7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1 ou 2 meses.
8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as flictenas contendo líquido límpido ou citrino, leucócitos, cloreto de sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâneo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes assestam-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se forma nos afogados que reagiram à proximidade da morte cedo foram retirados do meio líquido.

10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuligem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e conteúdo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de reação vital. 

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